A leitura e os nativos digitais: o que diz a neurociência?
Você já ouviu falar do termo nativo digital? Essa expressão refere-se à geração que cresceu imersa na era da Internet e que, portanto, teve contato com dispositivos eletrônicos, como smartphones, tablets e computadores, desde muito cedo. Ao contrário de pessoas das gerações anteriores, que conheceram o mundo antes da revolução da Internet, nativos digitais dominam a linguagem da Internet de maneira intuitiva. Para eles, a tecnologia é uma extensão natural de suas vidas e uma ferramenta que moldou sua forma de se comunicar, aprender e explorar o mundo.
Embora os nativos digitais sejam proficientes em tecnologia, muitos enfrentam desafios quando se trata de dedicar tempo à leitura. A cultura digital de gratificação instantânea, com informações breves e imediatas, tornou a leitura de longos textos uma tarefa árdua para alguns. Além disso, a constante exposição a estímulos visuais e a necessidade de atualização constante das redes sociais podem dificultar o foco e a concentração necessários para mergulhar no universo de um livro.
Entretanto, proibir o uso de dispositivos não é a solução ideal para estimular a leitura entre os nativos digitais. Embora possa parecer uma medida tentadora para afastá-los das distrações imediatas, essa abordagem pode gerar resistência e até mesmo prejudicar o desenvolvimento de habilidades essenciais para o mundo atual. Os nativos digitais estão inseridos em um contexto em que a tecnologia é parte integrante de suas vidas, e proibir seu uso pode criar um sentimento de exclusão e desvalorização de suas experiências. Em vez disso, é mais eficaz buscar estratégias que incentivem a leitura de forma atrativa e complementar ao mundo digital.
O que diz a neurociência?
A neurociência nos ensina que o cérebro é altamente maleável e adaptável, com a capacidade de moldar-se com base nas experiências e estímulos aos quais é exposto. Os nativos digitais cresceram em um ambiente repleto de informações fragmentadas e estímulos rápidos proporcionados pela tecnologia. Essa exposição constante a estímulos breves e instantâneos pode moldar o cérebro a buscar gratificação imediata, dificultando a concentração e a imersão necessárias para a leitura de livros completos.
Pesquisas mostram que as notificações constantes e a multitarefa digital podem levar a um ciclo vicioso de interrupções e dificuldade em manter a atenção em uma atividade por longos períodos. Essa impulsividade e a busca por estímulos rápidos podem dificultar o engajamento em leituras mais extensas, onde a paciência e a concentração são requeridas.
Desacelere:
Pense com a gente: se as crianças e adolescentes vivem em um cotidiano acelerado e fragmentado, tentar despertá-las para a leitura a partir de longos livros é o melhor caminho? Inicialmente, os nativos digitais podem começar com leituras mais curtas, como contos ou capítulos de livros, e gradualmente aumentar a extensão à medida que se sentirem mais confortáveis. Isso permite que eles desenvolvam resistência mental e se acostumem a passar mais tempo envolvidos com a leitura.
A neurociência explica que nosso cérebro busca a familiaridade e o prazer imediato. Ao iniciar com leituras mais curtas, os nativos digitais podem experimentar uma sensação de realização mais rápida, aumentando sua motivação e confiança. Conforme desenvolvem o hábito da leitura e constroem uma base sólida, eles se tornam mais capazes de se engajar em leituras mais extensas.
Devagar, mas sempre:
Segundo a neurociência, a construção de novos hábitos ocorre gradualmente por meio de um processo chamado plasticidade sináptica, que envolve a formação e fortalecimento de conexões neurais no cérebro. Essa visão é respaldada por teóricos como Donald Hebb, um psicólogo canadense conhecido por suas contribuições para a compreensão da plasticidade cerebral.
De acordo com a "regra de Hebb", quando duas células nervosas são ativadas repetidamente em conjunto, ocorre um fortalecimento das conexões sinápticas entre elas. Isso significa que, ao realizar uma ação repetidamente, como ler regularmente, as sinapses envolvidas nessa atividade se fortalecem, tornando a execução do hábito mais eficiente e automática ao longo do tempo.
Estudos de neuroimagem, como ressonância magnética funcional (fMRI), demonstraram que áreas do cérebro associadas a determinadas ações ou comportamentos se tornam mais ativas e conectadas à medida que o hábito é repetido. Portanto, a questão está em manter o hábito, mas não na quantidade de páginas lidas.
Leitura ativa: ativar!
A leitura ativa envolve o envolvimento ativo com o material, como fazer anotações, sublinhar trechos importantes ou formular perguntas durante a leitura. A prática da leitura ativa estimula a formação de novas conexões neurais e o fortalecimento das existentes. A neurociência revela que a repetição e a reativação de informações em diferentes contextos fortalecem as sinapses envolvidas no processamento da leitura. Ao envolver ativamente o cérebro durante a leitura, estamos aproveitando a capacidade do cérebro de se adaptar e melhorar sua capacidade de processar informações.
Mostre-me como fazer:
Famílias leitoras têm um papel fundamental na formação de filhos e filhas leitores. O exemplo e o envolvimento familiar na prática da leitura podem despertar o interesse e o amor pelos livros desde cedo. Para além das estratégias trabalhadas em sala de aula, ler em conjunto, em casa e com a sua família, é fundamental. Seja alternando a leitura de capítulos ou compartilhando trechos interessantes, a prática pode tornar a experiência mais social e agradável. Isso também permite que as famílias ofereçam suporte e tirem dúvidas durante a leitura.
A partir desse ponto, pode-se introduzir estratégias de leitura ativa, como criar resumos em conjunto ou discutir o livro em família. Essas atividades ajudam a envolver os filhos de forma mais ativa na leitura, tornando-a mais estimulante e recompensadora.
É importante ressaltar que não existe uma fórmula infalível para criar nativos digitais leitores, pois cada indivíduo é único e tem suas preferências e interesses. No entanto, as dicas compartilhadas neste artigo podem ser um bom começo para engajar os adolescentes na leitura em um mundo dominado pelas redes sociais e tecnologia. Ao combinar o conhecimento sobre neurociência, o estímulo à leitura ativa e o exemplo dos pais leitores, podemos cultivar o hábito de leitura e despertar o prazer pela descoberta de novas histórias e conhecimentos. Portanto, aproveite essas estratégias como ponto de partida e adapte-as às necessidades individuais de seus filhos, permitindo que eles explorem o mundo mágico dos livros e desenvolvam uma paixão duradoura pela leitura. Até a próxima!